Imagine o seu rosto se transformando no rosto de outra pessoa. O que já causa uma estranheza pode ficar ainda pior, pois durante a experiência uma trilha sonora experimental fica rolando criando uma atmosfera enigmática e perturbadora.

 

Tal situação acontece no jogo Persona, criado a partir de uma instalação do artista plástico Roberto Campadello apresentada na 12ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo. Pouco tempo depois Campadello transformou a obra em um jogo, que consistia em duas pessoas que ficavam de frente uma para a outra com um vidro transparente entre elas, com cada uma segurando uma vela criando uma ilusão de ótica que fundia a imagem de seus rostos. O músico Luis Carlini que acompanhou por muitos anos Rita Lee criou a trilha sonora em um LP com 10 músicas bem experimentais, gravadas de maneira caseira.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alguns relatos apontam a experiência como perturbadora, pois a sobreposição de um rosto ao outro poderia revelar aspectos perturbadores da própria personalidade, e junto com o clima criado pelas velas e pela trilha sonora os participante eram “convidados” a se revelarem um para o outro e para si mesmos.

 

Perturbadora ou não, a experiência fez sucesso. Campadello criou uma versão reduzida em um bar no bairro do Bexiga (SP) e na década de 80 virou um jogo lançado pela empresa Grow acompanhado do LP de Carlini. Como houve divergências judiciais entre Campadello e a empresa Grow o jogo parou de ser produzido e virou objeto de culto e o disco gravado por Carlini é considerado cult no meio musical. Como não acharemos o jogo em prateleiras de lojas por aí, só resta um questionamento: em tempos de redes sociais, que muitas vezes mais esconde as pessoas do que as aproxima, qual seria a função de um jogo como este?

 

P.S. Júnior Silva não teria medo de experimentar o jogo, mas acredita que não veria coisas boas através do vidro.

 

 

 

 

Confira abaixo o LP com a trilha snora gravada por Luis Carlini