top of page

O Circo Mecânico Tressalti

Filmes e livros sobre futuros distópicos e mundos pós-apocalípticos brotam aos montes todos os anos na industria cultural, mas poucas vezes encontramos uma história que fale sobre a arte em tal contexto. É no mínimo intrigante imaginar o que aconteceria com a música e as artes cênicas em geral quando a luta pela auto preservação física se torna não apenas uma necessidade, mas um desespero que não abre espaço nem para ao menos pensar em outras atividades.

 

O Circo Mecânico Tresaulti (Genevieve Valentine) - Darkside – 2013, é um livro que busca vislumbrar a arte tentado existir em um mundo destruído. Após uma espécie de terceira guerra mundial, poucas cidades restaram no mundo e um governo ditatorial se estabelece. Um circo comandado por uma misteriosa mulher que atende pelo nome de Boss viaja por este mundo incerto exibindo atrações que mais parece um show de horrores pós-revolução industrial, onde pessoas com partes mecânicas implantada no corpo se apresentam como trapezistas, músicos, malabaristas, etc. O que me chamou a atenção neste livro é a narrativa pouco convencional, que não subestima a inteligência do leitor, fazendo-o passear como se estivesse andando por dentro do circo e presenciando as situações tensas que ocorrem quase o tempo todo. Os personagens são descritos com lirismo, convertendo-os em seres curiosos, mas que em uma leitura formal não passariam de aberrações. Bom, é claro que existe uma trama que movimenta a ação na história. Existe um mistério que paira sobre Boss, pois é ela que transforma pessoas que vão cruzando o caminho do circo em “homens-máquinas” incorpora-os como atrações.

 

Ao longo do livro vai sendo revelado o passado de Boss e as respostas são perturbadoras, e é claro que não vou dar um spoiler, mas O Circo Mecânico Tresauti coloca a sensação de que, quando tudo quase acaba, não é apenas de auto preservação física que precisamos, mas também é necessário uma auto preservação da nossa capacidade de continuar se encantando com as coisas para não perder as nossas vontades. O problema... é o preço disso!

 

P.S. Júnior Silva não tem partes mecânicas, mas às vezes se sente uma aberração. 

ficção/romance

Arte, Mesmo no Caos

Júnior Silva - Janeiro de 2014

bottom of page