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2019, O Ano da Extinção

Filmes

 

Já faz um tempo que os vampiros se tornaram celebridades novamente na cultura pop, o problema é que este retorno não começou muito bem, pois foi logo com a Trilogia Crepúsculo, que não dá nem pra falar mal em debates sobre filmes de vampiros, pois não o considero um representante do gênero. O pior é que na onda dele veio um monte de coisas duvidosas se apresentando como histórias de vampiros. No entanto, há alguns dias tive uma boa surpresa com um filme que conseguiu modernizar o gênero sem deixá-lo perder a mística e elegância que sempre o caracterizou, coisa que pretensamente Crepúsculo se propôs a fazer e nem de longe conseguiu.

 

Trata-se de 2019, O Ano da Extinção (Imagem Filmes), de 2009, dirigido pelos irmãos gêmeos Michael e Peter Spierig. No elenco estão nomes bem conhecidos como Ethan Hawke, Willem Dafoe e Sam Neill. O filme já agrada logo de cara quem quer fugir do formato “cartoon network” em que os filmes de vampiro tem sido feitos. Ele começa com uma atmosfera de filmes Noir, aqueles de detetive da década de 50 com homens de terno e chapéu e clima chuvoso o tempo todo. A premissa do filme sugere que um misterioso vírus teria alterado geneticamente a maior parte da humanidade transformando as pessoas em vampiros, mas sem necessariamente ter desestruturado a sociedade, pois instituições como governo, economia, políticas internas e externas continuam existindo, só que adaptadas para um mundo de vampiros. Você pode até não achar a ideia de um vírus muito original e que não é a melhor para estabelecer a origem de vampiros, mas os dentuços do filme bebem sangue com força, morrem expostos ao sol e não viram purpurina quando sobem em árvores.

 

Mas o que torna a história do filme interessante é que este vírus atingiu grande parte da população mundial e o mundo se tornou um lugar de vampiros com o principal alimento sendo o sangue humano. O problema é que os humanos (aqueles que não foram contaminados pelo vírus ou não quiseram voluntariamente se transforma) passaram a ser a fonte do principal alimento do planeta, e aí já viu né? As pessoas passam a ser caçadas para fornecer o “pão nosso de cada dia”. Obviamente isso vai causando a extinção dos seres humanos, e exige dos governantes ações para resolver o problema de escassez do sangue para suprir o mundo, que se encontra cada vez mais a beira de uma barbárie. Neste momento, o roteiro coloca uma crítica ao modelo capitalista de gerenciamento da sociedade. Favorecidas pelos governantes as grandes corporações financeiras começam a encontrar um jeito de se dar bem nessa, pois são elas que comercializam o sangue humano que fica cada vez mais caro na medida em que vai se esgotando. As corporações também tentam produzir um sangue sintético que possa ser a promessa de não deixar os alimentos faltarem para a sociedade. É aí que entra o personagem de Ethan Hawke, um hematologista que trabalha para uma dessas grandes corporações pesquisando um substituto para o sangue humano, mas que desde o começo do filme já sente uma angústia por participar disto, já que a empresa para quem trabalha não parece muito preocupada com a ética na busca por resultados que lhe garanta lucros – de repente me bateu uma estranha sensação de Dejavú.

 

Para quem quer fugir de um lugar comum em filmes de vampiros e de roteiros que utilizam o gênero para criar pipocões adolescente de gosto duvido, “2019, O Ano da Extinção” está aí com um roteiro criativo e denso, pois os questionamentos do personagem de Hawke vão além da crítica às corporações, trazendo à tona também as angústias e o vazio de quem vai viver para sempre, um desejo humano que percebemos presente de forma cada vez menos sutil na sociedade atual que, esquizofrenicamente consome cada vez mais cirurgias plásticas e informação sobre hábitos saudáveis que possam adiar o envelhecimento sem pensar no risco de esvaziamento de sentido para a vida, pois sem a morte, o que seríamos? Zumbis hedonistas vagando sem rumo pela existência? Pode ser, mas filmes de zumbis é outra história.

 

P.S. Júnior Silva não é um vampiro, mas se fosse não participaria da saga Crepúsculo.  

Vampiros em Clima Noir

Júnior Silva - março de 2014

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