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Recentemente me perguntaram qual teria sido o melhor Bruce Wayne interpretado até hoje nos filmes do Batman. Respondi imediatamente com toda convicção do mundo: Christian Bale, que interpretou o milionário na última trilogia dirigida por Christopher Nolan. Em minha opinião, Bale imprimiu ao personagem a personalidade sombria que ele precisa ter mesmo quando não está vestido com o uniforme do herói, e conseguiu fazer um Bruce Wayne que precisa fingir ser um playboy fútil para esconder uma personalidade perturbada por conta do passado. 

 

Mas não foi na trilogia de Nolan que ví o trabalho do ator pela primeira vez, mas sim numa excelente interpretação em Psicopata Americano (American Psycho - 2000), escrito e dirigido por Mary Harron. O filme é uma adaptação do livro escrito por Bret Easton Ellis, que causou muita polêmica na época e ainda hoje promove discussões acaloradas. Em um primeiro momento o filme pode ser definido como uma crítica ao modo de vida americano, mas após assisti-lo, Beleza Americana, que é um filme com o mesmo objetivo, parecerá uma obra religiosa de autoajuda, e olha que estamos falando de um filme que “causou" quando foi lançado.

 

Mas o que Psicopata Americano tem? Ele é um filme violento. Mas aí você vai dizer: "mas Júnior, os filmes do Steven Segal e Jason Stathan são violentos”… sim, mas são filmes ruins, por isso vou pedir que você use outro exemplo… “mas os filmes do Tarantino são violentos”… então eu vou dizer: "agora sim você virou um cinéfilo decente e com honra merecedor de alguma atenção minha".

Sim, os filmes de Tarantino são muito violentos e fazem referências a sociedade de consumo e seus comportamentos esquizofrênicos, mas mostra a violência como uma caricatura dela mesma. Em Psicopata Americano a violência é sombria e mórbida, e o que a torna mais assustadora é que ela é veladamente produzida nas relações de “consumo” do cotidiano.

 

No filme, o personagem de Bale é Patrick Bateman, um homem bem sucedido profissionalmente com menos de trinta anos, o estereótipo de um Yuppie (young urban professional) tipo muito comum surgido nos anos 80 (período em que provavelmente o filme se passa). Os yuppies são uma classe média que busca sucesso profissional (quase uma obrigação) e mantém um estilo de vida baseada no narcisismo e no consumo de todo tipo de marca considerada de alto padrão, desde abotoaduras à restaurantes absurdamente caros. E é justamente neste ponto que o filme toca, sobre como um comportamento moldado pela ostentação leva o homem a um canibalismo (metafórico ou não), chegando a um ponto em que não basta ter todos os cartões de crédito possíveis, frequentar os lugares da moda, ser um metrossexual com cada centímetro do corpo modelado e usar todas as grifes badaladas no mundo. Se torna necessário também anular o outro, para garantir que o espaço de poder que se tornou o consumo desenfreado seja um monopólio para quem o possui e uma eterna busca para quem não pode tê-lo. 

 

Embora o filme seja de 2000 e o roteiro uma referência ao final dos anos 80, Patrick Baterman não é um tipo distante do nosso tempo, pois ele é o reflexo de uma classe média raivosa e delirante, apavorada diante da ideia de dividir seu espaço de “poder” (shoppings, aeroportos, restaurantes, escolas da moda…) com aqueles que acredita terem nascidos para serví-los, estando dispostos a eliminá-los, seja por meio da exclusão social ou mesmo de um extermínio físico.

 

P.S. Júnior Silva acredita não ser um psicopata e tem medo de para onde o consumo pode levar a humanidade. 

Psicopata Americano e a Classe Média Raivosa

 Consumo, narcisismo e violência como estilo de vida  

Júnior Silva - 25/09/2014

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