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Filhos da Esperança

Filmes

 

"As crianças são o futuro do país"... A frase é clichê e reproduzida com um senso comum que não consegue elaborar muito bem o seu sentido, mas cabe muito bem para representar as questões que são colocadas pelo filme de Alfonso Cuarón, ganhador do Oscar de melhor diretor pelo também excelente "Gravidade".

 

Filhos da Esperança mostra um mundo com um futuro distópico, o que não tem sido novidade no cinema nos últimos tempos. A novidade do filme de Cuarón é que este futuro se tornou assim não por uma guerra mundial ou por um apocalipse zumbi, mas por uma estranha situação: há aproximadamente 18 anos as mulheres pararam de engravidar e ninguém sabe por que isto teria ocorrido, mas transforma o mundo em um lugar mais difícil de viver, pois a única certeza que se passa a ter é que sem nascimentos a espécie humana estaria com seus dias contados. A história se passa em uma Inglaterra com um governo autoritário e que tenta diariamente impedir a entrada de centenas de imigrantes no país, já que lá parece ser o único lugar que ainda se pode viver relativamente bem.

 

Com a certeza de um não futuro as pessoas seguem a vida em dois extremos: uma parte se lança ao niilismo e deixam a inércia e o tempo ir levando suas vidas, e a outra mergulha no fanatismo religioso, pois tal situação faz surgir diversas seitas religiosas acreditando que a infertilidade da humanidade seria um castigo divino. Um terceiro grupo surge como uma alternativa a esses dois extremos, se dedicando a ajudar os imigrantes ilegais nos país. É aí que entra Teo, um homem que faz parte dos “perdidos e sem rumo”, deixando a inércia tomar conta de sua vida. Ele e sequestrado por um desses grupos clandestinos para ajudar uma imigrante a sair do país, entrando em cena a ação e os segredos que deixam o filme movimentado.

 

Tenho ficado cada vez mais fã dos trabalhos de Cuarón, não apenas por ser um diretor que conta boas histórias, mas também pela forma como ele narra visualmente as cenas. Logo na primeira cena do filme existe um plano sequência mostrando Teo escapando de um atentado à bomba que ocorre poucos segundo após ele ter saído de uma cafeteria. O efeito do plano sequência neste momento do filme é a sensação de estar seguindo Teo dentro da cena, como se estivesse caminhando a poucos metros atrás dele, o que obviamente ajuda a compartilhar a tensão que um momento desses deve causar. Cuarón Também utiliza muitos outros recursos narrativos não convencionais ao longo do filme, ajudando no mergulho estético e no compartilhamento das experiências emocionais vividas pelos personagens.

 

O cinema de Cuarón, com pouco mais de 20 anos de experiência, se apresenta como um cinema maduro, com habilidade em conciliar um roteiro denso com a ação de um filme de circuito mais comercial, condição fundamental para ter ganhado seu primeiro Oscar como diretor.

 

P.S. Júnior Silva acredita não ter filhos, mas também vê as crianças como o futuro do mundo.

Distopia e Esperança

Júnior Silva - março de 2014

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