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Quando eu era criança (há pouco tempo atrás, é claro), a Sessão da Tarde não se resumia apenas a “aventuras muito loucas” e “comoventes histórias de superação”, pois filmes com atmosferas sombrias e temas densos costumavam aparecer por lá. E foi lá, nessa extinta Sessão da Tarde que tive uma das primeiras experiências marcantes com o cinema. Foi na sequência final de Planeta dos Macacos, de 1968, o primeiro filme do que se tornou uma das mais longínquas e bem sucedidas franquias do cinema. Eu tinha apenas onze anos, mas aquela cena me deixou perturbado por alguns dias.

 

E foi com a expectativa alimentada por essa lembrança que fui assistir Planeta dos Macacos, O Confronto (2014), o último filme da franquia que estreou recentemente. Na verdade, O Confronto é segundo filme do que promete ser uma nova trilogia que esta revitalizando a franquia. Essa nova sequência foi iniciada em 2011, com Planeta dos Macacos, A Origem, que já havia superado expectativas e deixado a promessa de que uma boa história continuaria sendo contada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O diretor Matt Reeves (já confirmado para dirigir o próximo) não conseguiu me fazer voltar lá no garoto de onze anos, talvez porque eu já conheça todo o contexto que o universo da franquia proponha, mas resgatou uma coisa do filme de 68 que ajuda a fazer de O Confronto um bom representante da franquia: a atmosfera sombria. Reeves conseguiu tirar um roteiro sobre um mundo pós-apocalíptico do óbvio, pois mostra um futuro distópico sem excessos estéticos e bem próximo do que seria um mundo quase desabitado dez anos após o início da extinção da humanidade. O clima soturno e de incerteza está habilmente presente na fotografia do filme que constrói um clima quase que permanente de tensão. A chegada à cidadela dos macacos é um dos momentos mais representativos deste aspecto, mostrando para os poucos sobreviventes que um “outro mundo” esta se estabelecendo por ali, mas sem deixar muito claro que direção está tomando.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   

 

 

 

 

No entanto, toda a qualidade técnica só faz sentido por que é o pano de fundo para uma boa história. Como não poderia deixar de ser, em um roteiro sobre distopia a luta pela sobrevivência em um mundo convalescente coloca o homem (e os macacos) diante de dilemas filosófico e éticos, pois em um mundo sem instituições que possam intermediar as relações, violência e racionalidade passam a disputar cada centímetro quadrado deste mundo incerto. O roteiro também coloca em xeque a histórica arrogância da civilização contemporânea, quando em um dos diálogos surge a perturbadora reflexão: “sabe o que é mais assustador sobre eles...? eles não precisam de energia... luz... calor”.

 

Coincidência ou não, o filme estreou em um contexto onde conflitos estão potencializados no mundo, com um novo momento de intenso ataque à Faixa de Gaza promovido por Israel, que ignora cinicamente apelos para dialogar. E qual a relação disso com o filme? O diálogo final não é muito otimista quanto aos caminhos que o homem escolhe diante das adversidades. Mas, para entender mesmo, só assistindo ao filme.

 

P.S. Júnior Silva não acredita que os macacos dominarão o mundo, mas respeita todas as espécies... por via das dúvidas.   

 

                               

"O Confronto" Perfeito

A sequência da franquia Planeta dos Macacos

resgata atmosfera sombria e convence com um bom roteiro    

Júnior Silva -05/08/2014

Planeta dos Macacos (1968)

Planeta dos Macacos, O Confronto (2014)

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