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Menos Thor e Mais África

Produção Nigeriana Torna Deuses Africanos Heróis no Cinema

Júnior Silva - 26/07/2014

Bom, quando não estou escrevendo estes artigos pro site e fazendo os vídeos que poucas pessoas param para ver estou dando aulas de história nos ensinos fundamental e médio. Aliás, dando não, vendendo aula.

 

Nos últimos seis anos tenho trabalhado com sextos e sétimos anos do ensino fundamental, as antigas quinta e sexta séries, e ao trabalhar nessas turmas fatos históricos relacionados com origens de povos e suas culturas é muito comum que as atividades dos livros lhes peçam que falem sobre as religiões que eles conhecem, atuais ou não. Claro, as religiões cristãs são as campeãs de audiência e sempre lembradas, mas também surgem referências as religiões do Egito antigo, a mitologia grega e até a mitologia nórdica eventualmente é lembrada, mas nunca tive um aluno se quer que tenha se lembrado de mencionar alguma religião de origem africana.

 

Não vou ficar aqui usando seu precioso tempo pós-moderno fazendo uma tese de doutorado sobre o que estaria por trás desta situação, pois você precisa terminar logo de ler este texto para continuar curtindo mensagens de auto-ajuda e assistindo vídeos de pessoas sendo troladas ou de pequenas catástrofes domesticas, mas é claro que umas das coisas que ajudam a explicar porque as crianças não tem como referência religiões que vem da cultura africana é a ausência delas na industria cultural, pois a historiografia e o jornalismo moderno são responsáveis pelo eurocentrismo que redigiu boa parte do que foi escrito sobre a humanidade.

 

Mas, quando achávamos que não existia mais esperança, eis que surge lá da África, que já é considerada o berço da humanidade, uma iniciativa que pode torná-la também o berço de uma indústria cultural menos eurocêntrica e mais rica culturalmente.

 

Tratasse do filme nigeriano “Oya: Rise of the Orisha”. Gosto muito de filmes baseados em heróis de quadrinhos, mas confesso que ultimamanete pouca coisas tem se tornado interessante com a massficação que se estabeleceu neste gênero, com roteiros repetitivos e pouco ousados por parte dos grandes estúdios. Mas depois de mais de cem anos de indústria cinematográfica as telas de cinema irão receber um filme de ação que não mostra deuses de origem grega, celta ou nórdica lutando, mas sim divindades africanas. O diretor do filme é o Nigeriano Nosa Igbnedion, que conseguiu realizá-lo pelo sistema de crowdfunding, onde recursos são conseguidos através de contribuições feitas por meio de redes sociais como twitter e facebook. Embora com pouca informação circulando ainda sobre o roteiro, já da pra entender que Oya (Iansã) é a última deusa que mantém uma relação com os seres humanos, que aos poucos foi abandonando a crença nas divindades, criando aqui a possibilidade da produção nigeriana se aproximar dos roteiros Hollywoodianos de filmes de heróis, ação e pós-apocalípticos, já que a ausência de crença em divindades costuma ser uma premissa para futuros distópicos. Parece que haverá também uma luta entre Oya - talvez junto com outras divindades, já que Nosa promete que o filme também terá os principais deuses da mitologia africana – contra aqueles que pretendem manter o mundo distante dos deuses.

 

Mas vem cá: cinema nigeriano? Sim, a Nigéria tem uma indústria cinematográfica que segundo algumas fontes que pesquisei já é a terceira maior do mundo, pelo menos em volume de produções. Com uma situação social e econômica característica de nações africanas, as produções nigerianas conseguem ser numerosas por serem feitas em vídeo, e não em película, e em sua grande maioria curta metragens realizados de maneira independente e informal. 

 

É difícil afirmar o que realmente será o roteiro, pois, como já disse, ainda tem pouca informação navegando pela rede, pelo menos quanto ao conteúdo do filme. Se for confirmando o que tem sido dito, temos uma interessante bandeira político-cultural em relação à valorização das religiões africanas. A indústria cultural, embora haja muita crítica que podemos fazer sobre ela, tem um importante papel em tornar as coisas visíveis em escala global, principalmente em uma era onde a informação se tornou uma entidade onipresente. Filmes como Tróia, 300, Fúria de Titãs, Percy Jackson, Senhor dos Anéis, Thor ajudaram a popularizar culturas como a dos gregos, nórdicos, celtas e muitas outras, além de inúmeros gêneros da cultura pop que também se inspiraram nessas culturas para criar suas histórias.

 

Bom, por enquanto temos uma dúvida: se “Oya: Rise of the Orisha” vai ser uma boa produção cinematográfica, já que a indústria nigeriana se caracteriza pela informalidade e pelas dificuldades financeiras, embora o Brasil, com o filme “Besouro” (2009), já tenha apresentado um excelente exemplo de produção não americana ou européia bem sucedida ao tentar reunir uma abordagem sobre a cultura afro-brasileira com elementos de filmes de ação. É claro que se for comparado com as produções norte americanas e até algumas européias, que tem um poder de fogo financeiro difícil até de mensurar não temos um cenário nada promissor pro filme. No entanto, a riqueza estética da mitologia africana e a capacidade criativa dos povos do continente podem compensar e muito isso. E depois de assistir o filme, só nos restará avaliar se ele manteve coerência com os elementos da cultura e religião africana. Mas aí, como não sou um grande conhecedor da ontologia das religiões africanas, não vou pedir ajuda aos universitários, pois, para falar disso terá que ser gente que realmente conhece do assunto.

 

P.S. Júnior Silva não é religioso, mas não dúvida do Tranca Rua.  

 

 Assista o trailer de “Oya: Rise of the Orisha”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                   

 

 

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